31.1.07

Mais uma da Bromélia!!!!

cAnTiLeNa Ao MeU uRuCuM

Meu urucum, meu urucum, lamuriava-se a mulher, quase em desatino, olhando a pequena muda que desfalecia de pouquinho, quase em gota: Meurucum... nascido do desejo de espalhar a planta por solos diversos da pátria, mãe quase gentil, que veio de longe, dos arredores de Belém do Pará, trazido por mãos que haviam plantado a mãe árvore no interior de São Paulo. Meurucum, meurucum, te vi em cachos e depois que abertos, como se de úteros retirados, me lambuzei em suas sementes, vermelhas, ritual de vida, cíclico nascimento. Meurucum, oh! Deixei-os secar, buscando o raio de luz que entra sem hora e momento, correndo com as sementes nos rastros do calor. Peguei-o em pequenas sementes, meus filhos da árvore que veio de longe. Plantei-o, tão diminutos, em terra bem fofa, esperando a força rebrotar, quebrando a película, que o separava do livre ar e crescer. Meurucum! Meurucum! Já verdes em folha, pequeninas bandeiras que acenavam a vida, replantei-o em terra larga, jardim de um prédio, todo o cuidado que merece um plantar de pequena muda. Vi-o crescer, quase em soslaio para que da vista não restasse um mal qualquer no meurucum. Com galhos secos, de arbustos e árvores, lhe fiz uma cerca, barreira para pernas e mãos alheios. Meurucum, você cresceu, completou o tamanho de uma régua de escola, estendeu suas folhas, escondendo seu galho. Meurucum, oh! incauto pé humano que não se guiou pelo sentir da fragilidade das folhas em pouca altura, muda porque pequena planta, mas vida em verbo partida pelo corte profundo em seu galho, fazendo cessar a seiva que corria já apressada. Meurucum... adeus!

21 de abril 2002
(publicado na revista virtual O Caixote www.ocaixote.com.br)